“se tu me consideras digno, Senhor, revelarei
àqueles cuja vida é monótona, os horizontes
ilimitados do esforço humilde e ignorado que
pode, acrescentar um elemento novo à perfeição
do verbo encarnado” (Teilhard de Chardin)
Madre Mônica personifica a entrega oculta, sempre disponível a descobrir lugares onde a necessitem. No Beatério, quando ela tranquilamente se prepara para professar, percebe algo estranho entre as Irmãs. Na Sala Capitular, a Madre Superiora lê para as Irmãs uma solicitação feita pelos Padres Agostinianos, pedindo religiosas para colaborarem com eles
nas missões de Filipinas. Ela observa que algumas Irmãs se decidem e começam a preparar suas malas, pois era urgente a partida. Mônica acompanha todo esse movimento na reflexão e no silêncio. Ela professa no dia 24 de fevereiro de 1883 e em março desse mesmo ano acontece a partida de quatro Irmãs para as Filipinas. No grupo vão algumas jovens e também a Superiora da casa, já anciã e doente. Isso interpela e sensibiliza Mônica.
Não tardou muito e chegou uma interpelação, pedindo reforço para as Missões. O pedido cita nomes: Mônica é uma delas. São entusiastas as cartas que chegam de lá, enviadas pela primeira turma. Rapidamente algo foi mudando em Mônica e ela se decidiu a dizer sim. Junto com Madre Alfonsa e a jovem Joaquina, Mônica forma a segunda expedição que sai rumo às Filipinas. Tudo era novidade, lindo e desafiante para Mônica. Sentia que
se dirigia para a terra de Promissão. Tendo conhecimento dos grandes festejos feitos pela chegada do primeiro grupo, sentiu-se frustrada quando, ao chegar, ninguém as esperava. Escreve isso ao Beatério.
Chegam num domingo e passa logo o primeiro desacerto. No dia seguinte, a tarefa de desfazer malas, repartir lembranças, partilhar impressões a coloca com os pés no chão. Com espírito fraterno e muita juventude, entrega-se logo na busca de serviço. Numa reunião, cada uma corresponsavelmente coloca seus dons a serviço. Para Mônica, recém-
chegada, entregam a delicada tarefa de Mestra de Noviças. Joaquina Barceló e uma jovem indiana são suas primeiras formandas. Foi excessivamente rápida a troca feita em seus planos. Ela ainda nem havia bem aberto os olhos e a alma para os sonhos que trazia sobre as Ilhas, quando outro golpe certeiro a atingiu. Foi a divisão que se estabeleceu no
grupo pela destinação de quatro Irmãs para outra casa em Pasig. Ela, Sor Rita e Sor Joaquina continuariam em Mandaloya. Essas, que foram transferidas para Pasig, ficaram descontentes com a nomeação de Mônica como Mestra de Noviças. Julgaram que era prematura essa nomeação. Também Mônica achou prematura, pois estava consciente de sua limitação.
Desde a divisão do grupo, muitas perturbações começaram a acontecer, trazendo inquietações tanto à comunidade de Pasig como à de Mandaloya. Muitas cartas começam a chegar ao Beatério, mas Mônica nada escreve. Intui que aquelas dificuldades não levarão a um final feliz. Sente tentação de desertar e voltar para o Beatério. Sofre por não receber notícias de Barcelona e escreve para lá reclamando. Essa carta, de novembro
de 1884, é um dos poucos documentos que temos que dá entrada a um rico estudo de sua personalidade sensível e delicada. Escreve: “Madre, creio que a senhora sabe do torvelinho que está acontecendo nesta comunidade. São coisas estranhas, porém, Deus sabe que somos suas esposas, e deixando penetrar a luta em nossos corações, os mantém num mar de contínua paz”. Na verdade, a situação é delicada, mas ela crê na pedagogia redentora do Senhor. “Para mim, tocou um prado de lindas flores. Parece que o Rei não
sabe como cumular-me de tantas graças. Bendito seja o autor dessa misericórdia que mostra tanta solicitude com sua esposa. Parece-me ter sido desterrada para gozar como Abrahão na ausência de sua pátria, de um reino de maior felicidade”. A experiência profunda de Deus, em Mônica, é despida de sentimentalismo. É realista e fala de suas órfãs. É agradecida e fala do dom recebido de Deus. “Parece-me que o Divino Salvador deu ao rei José do Egito, menos graças que a nós, pois se o livrou da morte temporal, a
nós fez salvadoras nestas Ilhas”. Revela-se uma grande e maternal pedagoga. Diz: “Vêm aqui algumas jovens bem ignorantes que nem sabem fazer o sinal da cruz e dentro de algum tempo elas estão perguntando: que devo fazer para tornar-me santa? São almas cheias de júbilo angelical”. Mônica está, assim, entusiasmada em seu trabalho, mas a tempestade se aproxima. Já foram levadas para Pasig quatro Irmãs e agora anunciam que
mais duas Sor Joaquina e Sor Remédios irão para Batangas. Mônica ficará só com Sor Rita. O trabalho não lhe dá medo, mas as divisões internas a fazem sofrer.
As cartas que o Beatério recebe de Mônica são bem diferentes das outras Irmãs. Nada de críticas. Ela recria sua vista em paisagens mais lindas. No livro da Irmã Arminda, podemos ler longos trechos de suas lindas cartas. Em outubro de 1886, os Padres Agostinianos a transferiram para Batangas onde estavam Sor Remédios e Sor Joaquina. Deixa aqui o Noviciado e vai lá dar aulas de trabalhos manuais às meninas. Ali, adoece e pela debilidade física, seu espírito também se vê ameaçado. O processo de sua enfermidade foi rápido e temendo por sua vida, os Padres Agostinianos preparam com urgência sua volta a Barcelona. Regressam com ela Sor Agostinha e Sor Alfonsa. Estas duas voltavam porque pediram para voltar, mas Mônica não. Traz de lá uma encantadora experiência. Os Padres sentiram sua partida e as meninas do asilo ainda mais. A maior dor, porém, estava com Mônica. Arrancaram de seus pés um chão onde ela havia sido testemunha de cenas emocionantes.
Reincorporada à comunidade do Beatério, é acolhida com carinho fraterno pelas Irmãs. O silêncio e a paz a ajudam a repor seu corpo cansado. Em sonhos, revivia cenas onde as órfãs a chamavam e gritavam por seu nome. Passam dois longos e intermináveis anos, quando os Padres Agostinianos batem novamente às portas do Beatério pedindo Irmãs, agora para um projeto de abertura de um Noviciado em Madri, Mônica sente-se comprometida com as missões de Ultramar. Descobre que estão estudando novas propostas e temendo que alguém lhe tomasse a dianteira, escreveu ao Padre Provincial oferecendo-se para a nova fundação. “Conte comigo” é a frase que usa para fazer-se presente.
Em 1890, Mônica é uma das três que participam da fundação do Noviciado de Madri, juntamente com Madre Clara e Madre Querubina. Três pessoas bem diferentes em valores, que colocam seus dons à disposição num pluralismo enriquecedor para o quadro inicial da origem congregacional. Ao fazerem o primeiro projeto comunitário, cabe a Madre Mônica a tarefa de administração dos bens. Os recursos são escassos, as necessidades são apremiantes nesse primeiro ano de vida. Depois de dois anos, Madre Clara vai embora e Mônica começa a reviver os duros momentos passados nas Filipinas e a ela cabe assumir a tarefa de Mestra de Noviças.
A partir de agora, nada mais temos que possa indicar o pensamento de Madre Mônica. O silêncio cai sobre sua vida. Nem sequer sabemos de que lado Madre Mônica estava quando houve a divisão do grupo de Bermeo. É uma mulher pacífica e pacificadora. Possui uma habilidade muito sua nessas ocasiões de conflito. Observa detalhes e sabe adaptar-se sem polêmica nas horas de conflito. Assim, sua vida foi adquirindo sedimentação e fortaleza que é o que oferece à nova Congregação nascente. Um dia, ouve a voz do Senhor a dizer-lhe “VEM”. Percebe que a chamada tem cor e calor diferentes. Sem dizer nada, como sempre, Madre Mônica parte para o céu no dia 05 de junho de 1908, com apenas 54 anos. Sua vida foi um verdadeiro poema.